Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Thursday, October 30, 2008

Espanha devia ser um país no Pacífico

O meu patrão é espanhol.

Não é coisa para me fazer levantar todos os dias de manhã com vontade de vir trabalhar, mas também não é caso para ficar mais um quarto-de-hora na cama todas as manhãs a imaginar em qual das partes da minha caótica biologia poderia contrair um estafilococos fatal que me impedisse de vir trabalhar. Venho trabalhar porque gosto do que faço e, felizmente, andam distraídos o suficiente para me pagarem por isso. Mal, é certo. Mas isso é outro assunto.

Dito isto, devo dizer que o meu patrão espanhol é muito bom rapaz (Olá, chefe! Tudo bem? Gosto de si, joder! – não vá ele ter tanta sorte de dar com isto na internet). É tão bom rapaz que até já me ofereci para fazer uma pesquisa aprofundada sobre a sua genealogia para confirmar que ele, afinal, é holandês e nasceu na Nova Zelândia. Porque o meu patrão é simpático, educado, um gestor objectivo e sem medo de cortar onde as despesas são mais gordas (Olá outra vez, chefe. Se por acaso continua a ler isto é porque arranjou uns serviços de tradução – e se é esse o caso, olhe que eu sou dos mais poupadinhos. Não faço despesa quase, quase nenhuma. Até sou eu que trago o meu papel higiénico de casa). É um tipo elegante, apresentável, de modo que tenho certas dúvidas que seja realmente espanhol.

Os espanhóis são as melhores pessoas do mundo para viver no atol de Moruroa. Para eles seria um prémio – bom tempo, uma ou duas tempestades típicas do Pacífico de vez em quando para animar os dias, a praia ali mesmo à porta, ausência de impostos, vastas oportunidades de especialização em paella de tubarão… enfim, só vantagens. E além disso poderiam servir um bem maior a toda a Humanidade e servir de cobaias para os testes nucleares que eu vou convencer o Sarkozy a retomar ali mesmo, naquele lugar. Como é que os fazíamos caber todos juntos naquele espaço? Não sei, não é problema meu. Mas se, de facto, convencermos a França a voltar aos testes nucleares em Moruroa, suspeito que nem sequer se torna um problema de todo.

Os espanhóis comem com as mãos, escrevem com os pés e falam quase tão alto quanto os italianos. No primeiro caso, não me parece mal – quem nunca comeu uma coxinha de frango à unha ou despachou uma sardinhita morta à estalada em cima de uma fatia de pão? – embora no caso dos espanhóis a utilização das patas para comer se estenda ao arroz negro, ao fillet-mingon com judias verdes e à crema catalana. No segundo caso, já me parece um pouco pior – Miguel é um espanhol que eu conheço, de Madrid. Curiosamente, também é bom rapaz, uma vez que tem raízes na Galiza (que, como se sabe, é «Portugal do Norte»). Escreve numa revista, sobre assuntos com muita piada, mas com textos que não têm mesmo piada nenhuma e, pior que isso, têm erros que nunca mais acabam. Como qualquer outro espanhol, não sabe escrever. E mesmo os que sabem, como o José Saramago, não são tão interessantes quanto isso. Mas o pior de tudo, mesmo, é falarem alto – já assistiram a um italiano a falar ao telemóvel? Do tipo, atende uma chamada em Génova e ouve-se em Nápoles? Os espanhóis são mais-ou-menos assim, com a particularidade de dispensarem o telemóvel. Falam com a mesma amplitude de decibéis de um italiano, mas para pessoas que estão a metro-e-meio deles. E ornamentam todas as frases com uns joder, pendejo e la-madre-que-me-parió.

Os espanhóis têm vários conflitos e um deles é com a água. Atenção que isto é sério – não é cá brincadeiras como o terrorismo no País Basco. O pior terrorismo que os espanhóis fazem é com os visitantes, com quem vem de fora, quem visita o país. Nem nesses dias tomam banho. Isto resulta em constantes atentados à minha pirâmide nasal, que – coitada – já sofreu atentados que chegue e já de si é um bocadinho uma ruína de pirâmide em vez de uma pirâmide como deve ser. Não tomam banho, mas perfumam-se. E em quantidades suficientes para encher o lago do Campo Grande. Mas como os perfumes dos espanhóis vêm de Marrocos, a catarse que resulta é tudo menos interessante – uma mistura entre naftalina de baú com almíscar de chamuça, com recortes de peúga-por-lavar, carrascão entornado há dois meses e um ligeiro travo a tabletes dietéticas. Apertar a mão a um espanhol é, normalmente, um acto de coragem – porque fico sempre com a mão direita engordurada o suficiente para fazer a revisão ao carro.

Os espanhóis são campeões da Europa de futebol. So what? Também os gregos – e isso não faz deles gente brilhante. Como é que um país onde as províncias lutam há anos para serem independentes e terem campeonatos de futebol independentes, onde existem equipas de futebol profissional que não admitem no seu plantel jogadores que não sejam exclusivamente originários daquela província, de repente se consegue unir para apoiar uma selecção multi-cultural, onde até joga um brasileiro? Não consegue. Foi tudo produto do Marketing, que, como se sabe, é um tipo americano que veio trabalhar para a Europa para ganhar dinheiro. A única vantagem que os espanhóis encontraram em ser campeões da Europa de futebol foi ter mais dois ou três dias de desculpa para não ir trabalhar – porque se embebedaram a celebrar e não se lembravam do caminho para casa.

O meu patrão é do tipo de gente que devia viver em Belém, com uma varanda gigante virada para o rio. Comporta-se bem à mesa, é um óptimo conversador, esforça-se para falar português, convive-se impecavelmente com ele, até porque liga muito pouco a futebol. Tenho a certeza que ele não é espanhol. Deve ser suíço, ou então austríaco, isto se eu não conseguir confirmar que ele nasceu mesmo em Auckland.

Já eu, por outro lado, de tão interesseiro que sou, desconfio que os meus pais se embebedaram algures em Badajoz há umas décadas a esta parte e andaram a divertir-se…

...

1 comment:

João Picado said...

Tenho uns amigos que não iam gostar de ler esta ode à Espanha... Sim, à Espanha, como se diz, também, vou ali à França! Gosto tanto. Ah, e há uma terra na raia que dizem também: "Vou ali à da minha avó." Não é nada promíscuo. Significa: vou a casa da minha avó.

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

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