Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Wednesday, February 28, 2007

Mais vale morrer do que ir ao médico. Pelo menos devo ser atendido mais depressa...

A porta das urgências é daquelas que tem mola para um lado e para o outro. Isto é, tanto se pode empurrar de um lado como de outro, o que desde logo faz aumentar a probabilidade de haver mais potenciais «clientes» da própria urgência (imaginem só um choque frontal de macas empurradas freneticamente de um lado e de outro da porta!). Como se não bastasse, sendo uma urgência portuguesa, está sempre a abarrotar.

Ao lado da dupla porta de abrir para os dois lados há uma campainha. Ao lado da campainha está um papel que diz «para urgências toque a campainha e aguarde». Ou seja, se eu estiver todo partido, a esvair-me em sangue, prestes a entrar em paragem respiratória e a precisar de reanimação, tudo o que tenho a fazer é tocar a campainha. E aguardar. Pronto! Tanta procura, tanto dinheiro gasto em pesquisa e tanto prémio nobel mal entregue, quando a cura para todos os males está numa simples campainha! Basta tocar e aguardar, a estúpida da urgência resolve-se num instante!

Claro que, sendo uma urgência portuguesa, quaisquer quarenta-e-cinco minutos chegam para alguém vir atender à campainha...

No mesmo sítio da urgência fica o sítio das consultas. O que significa que a sala de espera é a mesma. O que, por sua vez, significa que uma criança com um terçolho, uma idosa com pedra na vesícula, um motociclista com uma perna ao peito e o nariz nas costas, uma senhora com uma bronco-pneumonia e um simples rapazola que vai a uma consulta para saber o que são umas borbulhas na cara, todos juntos, coabitam no mesmo espaço. Desde logo é um ambiente fantástico, nem uma rave com o melhor «xtc» proporcionaria uma trip melhor.

Em frente ao guichet estende-se uma fila de umas sete ou trinta-e-nove pessoas. A senhora que supostamente deveria atender, marcar as consultas e dar andamento ao assunto, conversa mais com as colegas do que com os doentes (faria se fossem «saudáveis»). Sempre que, finalmente, decide atender quem está à espera, aparece alguém a meter nojo que passa à frente de todos com a desculpa que «vai só fazer uma perguntinha». Quando finalmente chega a vez de quem está ali apenas por recomendação de um médico que, no alto da sua sabedoria, achou que o seu paciente deveria ser visto uma segunda vez e com maior atenção, a senhora diz:

- «Mas já marcou consulta?»
- «Não, mas o médico é que disse para eu vir e mostrar este papel assinado por ele»
- «Eu compreendo, mas ele ainda não chegou... entre ali e pergunte por ele»
...
...
...
- «Já perguntei por ele, dizem que ainda não chegou. O que faço?»
- «É melhor ir lá abaixo ao Piso-0 pedir que lhe marquem consulta aqui em cima»
- «E depois?»
- «Depois volta aqui para lhe marcarmos a consulta»
- «Então de que adianta ir lá abaixo?»
- (silêncio constrangido)
...
- «E depois volto para o fim da fila?»
- «S... sim...»
- «Ok, obrigado. Talvez o médico me veja ainda este século»

Depois admiram-se que as pessoas, na sua mais inocente credulidade, desejem que exista um Dr. Gregory House em cada hospital...

Wednesday, February 21, 2007

Exibicionismo, estupidez ou simples sinais de masoquismo?

Milhares de pessoas convergiram ontem até Estarreja para assistir ao Corso de Terça-feira. Nem chuva, nem frio, nem vento impediram que centenas de graúdos e miúdos desfilassem na Praça Francisco Barbosa durante mais de duas horas.

Bom. Para já, se foram «centenas», quer dizer que não foram «milhares». O que até me parece uma decisão sensata por parte dos «milhares» que decidiram não ir (pudera!, chuva, frio e vento são convites demasaido tentadores para ficar em casa na restomenga!). Mas o que é preocupante é que «centenas» decidiram, ainda assim, ir enfiar os miolos debaixo do mau tempo, o que me parece um extraordinário exemplo de masoquismo. Ou então, apenas parvoíce.

Pior que tudo, parece que entre as «centenas» havia miúdos e graúdo. Quanto aos graúdos, estou-me a borrifar, cada um tem o que merece. Quanto aos miúdos, coitados, tenho que lamentar porque eles, de facto, não têm possibilidade de escolha e fazem o que os papás lhes dizem. Tivessem ficado em casinha e talvez os papás tivessem que puxar pelas ideias para lhes arranjar uma festinha de carnaval menos atreita a gripes.

É que, felizmente, a profecia cumpriu-se: nesta espécie de Verão de São Martinho que todos os anos tentam inventar para o carnaval, não há bom tempo que lhes valha - está sempre um frio de rachar e chove a potes. Quem andou na rua segunda e terça-feira pôde, finalmente, na quarta-feira seguinte, voltar a protestar contra o fecho das urgências. Sobretudo porque, nesse dia especialmente, lhes fazia um jeito dos diabos um médico que lhes acudisse a gripe.

Sunday, February 18, 2007

Mais um enorme sucesso no carnaval de Torres Vedras: todos ficaram a ver as imagens do Rio de Janeiro pela TV

in JN, sexta-feira
A chuva que caiu, esta manhã, em Torres Vedras, levou ao cancelamento do tradicional desfile de Carnaval das crianças das escolas locais.
«Não há condições climatéricas para colocarmos as crianças na rua», explicou Carlos Bernardes, vice-presidente da autarquia, à Agência Lusa.
Muitas crianças viajaram das freguesias rurais de autocarro para a cidade mas acabaram por regressar às suas escolas. «Estivemos sempre em contacto com a transportadora para acautelar que as crianças não se molhassem mas como o mau tempo prosseguiu fomos obrigados a cancelar o desfile», acrescentou Carlos Bernardes.
O desfile das crianças mascaradas marca tradicionalmente o início do Carnaval de Torres Vedras. Este ano, as escolas confeccionaram os fatos e as máscaras tendo como inspiração o tema "povos de todo o mundo".

Acrescento eu: e não é que valeu mesmo a pena tanto trabalho?!

Saturday, February 17, 2007

O truque é respirar fundo, ler um livro, rir das exibições do Benfica... que quarta-feira chega num instante

E pronto.

Cá está mais um. Andam crianças por aí vestidas de homem-aranha, aperaltadas com o maior aprumo por parte dos pais, que por sua vez se mascaram com o melhor fato de treino que conseguem encontrar na gaveta de cima, tudo para esse passeio de fim-de-semana ao Feira Nova. Hoje já vi de tudo: crianças vestidas de fadas, coelhos, bruxas, floribellas, morangos com açúcar amarelo, batmans, borboletas, esquimós, zorros, serventes de pedreiros, empregadas da limpeza, um palhaço mascarado de pessoa normal, um careca de fato e gravata que parecia mesmo caixa de um banco, uma freira que parecia mesmo um pinguim, uma loira de salto alto que parecia mesmo prostituta e um rapaz com o cabelo encaracolado e mais crescido do lado de trás, assim a cair sobre os ombros, que parecia mesmo um jogador de futebol. Ah, esperem, afinal era mesmo jogador de futebol. Bom, mas todos os outros eram disfarces perfeitos.

Esta tradição genuína e tipicamente portuguesa já chegou. Aliás, ainda eu estava a recuperar da ressaca do ano novo e o carnaval já andava a querer saltar-me para a frente dos olhos através das sempre versáteis montras das lojas. Pois parece que é este fim-de-semana que é o carnaval, esse altíssimo momento do calendário que está enraizado na cultura portuguesa há, pelo menos, 17 anos. Talvez mesmo 18, os historiadores não se entendem muito bem. *

* a propósito disto, lembrei-me de uma coisa: parece que aquela noção que temos dos Açores, desde o tempo da escola, não é bem verdade. Aprendemos que os Açores se chamam Açores por causa desse pássaro chamado açor que havia nos Açores quando os Açores foram descobertos. Ora diz um historiador que, afinal, nunca houve açores nos Açores (e parece que os biólogos confirmam). Parece que os gajos que acompanhavam o Gonçalo Velho Cabral, o tipo que descobriu o arquipélago (quer dizer, aqui também não há consenso, há quem diga que foi o Diogo de Silves), não eram lá muito espertos nem sabiam distinguir um falcão de uma barracuda, daí terem chamado açores a um bando de milhafres mais subnutridos que a águia do Benfica. Mas há outro historiador que diz que isso é tudo treta e que os Açores se chamam Açores porque o tal do Gonçalo Velho Cabral era de uma terra beirã que se chamava Açor, daí ele ter achado que era um bom nome para aquele grupo de ilhas. E depois apareceu o Zé Hermano Saraiva que, para ser do contra, resolveu defender a teoria que a tripulação do Velho Cabral era formada por italianos que, ao chegar a Sta. Maria, vendo um dia de sol tão bonito e céu azul (absolutamente típico, sem dúvida!), disseram a plenos pulmões «AH!, Azzurri!»... que tem tudo a ver com «Açores», claro! Bom, desculpem-me esta trapalhada, mas não sei em quem acreditar. Para mim os Açores chamam-se Açores porque sim.

Onde é que eu ia?... Ah!

A ideia de celebrar o carnaval em Portugal tem tanto de parva como de estúpida. Ou seja, é verdadeiramente parva e estúpida, daí que possa considerar-se ser uma das poucas instituições em Portugal a conjugar esses dois epítetos, juntamente com o comentador desportivo Rui Santos (que ainda junta mais dois atributos, ser feio e bimbo), o apresentador da Praça da Alegria, Hélder Reis, e o seu congénere Carlos Dias da Silva. À Odete Santos falta-lhe ser parva para estar neste grupo. Ao Santana Lopes falta-lhe ser estúpido (por convicção). O João Kléber não é português, por isso não conta.

Ainda cheguei a pensar converter-me, este ano, ao grupo dos imensos foliões que celebram de forma entusiástica, de norte a sul do país, esse sagrado momento que é o carnaval. Três segundos depois, deixei de pensar nisso. E então fiquei preocupado, porque vou voltar a ter que passar por isto tudo, cruzar-me com gente mascarada e pessoas que não estão mas parecem, voltar a ver crianças enfeitadas da cabeça aos pés e ter que ver, constantemente, pseudo-reportagens televisivas sobre o sucesso que está a ser o carnaval de Ovar, com as 47 pessoas que estão a assistir na rua, ao vivo, ao «corso», debaixo de uma saraivada de canivetes e de um frio de rachar. *

* Ovar parece-me um sítio parvo para se fazer um carnaval. Mais parvo do que qualquer outro, quero dizer. A não ser que se mantenha a tradição de mandar ovos à cabeça da malta. Então «ovar» passa a ser outro sentido completamente diferente e totalmente ajustado.

Para este ano arranjei um truque: ver uns filmes de guerra, um drama francês sem princípio meio ou fim, um filme de animação e uma reprodução autobiográfica do Almodovar e, para fechar o fim-de-semana, uma comédia de rir às gargalhadas (parece que o Benfica vai jogar à Madeira). Assim mantenho-me longe dessa tragédia que é o carnaval.

Portugal é aquele país onde os culpados nunca são castigados, os pedófilos nunca são condenados, os corruptos fogem sempre, os ricos são cada vez mais ricos, o Alberto João Jardim cada vez mais ignóbil, o país em que as pontes caem e os comboios resvalam para o rio sem haver culpados, os radares são instalados nas cidades mas a maior parte das multas são por excesso de álcool e ausência de carta, o país onde uma menina que faz serviços alternativos escreve um livro best-seller, o país em que os presidentes de câmara fazem todo o tipo de negócios imobiliários em proveito próprio, sem nunca serem punidos, o país em que a banca nos tem agarrados pelos tomates e ainda se queixa que tem que pagar muitos impostos, o país onde o preço dos combustíveis sobe enquanto nos outros desce, o país em que no Verão há incêndios e no Inverno há cheias, o país em que os jogadores de futebol querem ficar isentos de obrigações fiscais, o país onde um director de um jornal escreve um texto a elogiar uma vintena de empresas portuguesas pelo seu empreendorismo e capacidade de investir em negócios no estrangeiro, esquecendo que parte delas nem cumpre as suas obrigações fiscais em Portugal... o país em que quase crucificavam um antigo-primeiro-ministro-hoje-presidente-da-república porque sugeriu que o carnaval - que raio! - não tinha nada que ser um feriado.

Nem tudo são tristezas, nem tudo é fado. Pelo menos fico imensamente feliz por saber que Cláudio Ramos recebeu o diploma de «Excelente Comunicador», emitido pela «Mundial Casa», empresa que comercializa produtos como o Vaporetto Titano. Haja qualquer coisa que nos orgulhe, catano!

P.S. - acabei de ver umas imagens do carnaval de Torres Vedras. Maravilhoso. Espectáculo fascinante. Estrondosa mistura de culturas tão diferentes: de um lado, os visitantes, com os seus blusões apertados até ao pescoço por causa do frio; do outro lado, as brasileiras a abanicar as pernas para mantê-las aquecidas, aproveitando para ganhar uns trocos só a dar ao rabo (atenção, eu disse dar «AO» rabo, sem confusões).

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

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