Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Friday, October 24, 2008

Nos Estados Unidos as sanitas têm lavagem automática

Não, não é daquelas sanitas que rodam o tampo automaticamente a seguir ao servicinho. Nem daquelas que mandam evacuar a sala para despejar uma desinfecção completa com direito a lixívia. Falo das sanitas convencionais, dos hotéis, das casas-de-banho do aeroporto, dos restaurantes, das casas, de todo o lado. Acham que estou a brincar? Não estou. Vejam na foto (e sosseguem, porque não há nada de escatológico na imagem; é meramente para efeitos científicos; e até trouxe de duas sanitas diferentes para verem que eu não estou a gozar).


Reparem bem como cada sanita se apresenta ao ilustre desconhecido com uma camada de água bem definida até cá acima. Ao primeiro impulso dá vontade de chamar o canalizador para ele trazer o seu desentupidor de ventosa e tratar do assunto, mas um olhar clínico sobre o mobiliário de WC (eu sei, isto é coisa para repugnar, mas garanto que quando eu fiz isto a sanita estava limpa e imaculada) e um sensato accionamento da manivela de descarga revelam que… 1) a água desaparece e é substituída por outra água igualzinha, cheia até ao mesmo ponto; e 2) é suposto ser assim mesmo.

De repente eu podia ser extremamente desagradável e tecer aqui todo o tipo de considerações sobre entidades estranhas a boiar alegremente numa piscina de PVC como as meninas do Tahiti a tomar banho dos quadros do Gauguin. Mas não. Vou ser apenas desagradável e dizer que este sistema é muito simpático, porque além de receber matéria orgânica com o mesmo orgulho de qualquer outra sanita que habite na Europa, ainda proporciona toda uma nova sensação de conforto ao retribuir a oferenda com uns refrescantes salpicos que, por um lado, arrepiam o esfíncter e, por outro, dão o contributo – nobre e por muitos ignorado – de ajudar na tarefa de higiene e limpeza.

Penso que esta é a forma justa de introduzir o tema: «mas afinal os americanos servem para quê?». Ainda não tenho uma conclusão clara sobre o assunto, mas a ideia mais forte com que fico é que servem para mandar para o Afeganistão. Os americanos que foram enviados para capturar o Bin Laden são os únicos que fazem alguma coisa construtiva pelo mundo* – porque os outros, os que ficaram em casa a ver os debates entre o Obama e o McCain enquanto devoram um balde de Baskin’n’Robbins à colherada de sopa, pertencem à mesma corja dos americanos que ensinaram à Humanidade fenómenos como a obesidade, o racismo e o sobreendividamento. Aliás, foi por se distinguirem com notoriedade na capacidade de contrair créditos que são incapazes de pagar que os americanos arruinaram por completo o esqueleto teórico da sociedade capitalista. Mas o problema não é tanto dos americanos que contraíram os créditos; é mais dos americanos que trabalham nos bancos e que aceitaram emprestar-lhes dinheiro que sabiam que eles não tinham e que não iam ser capazes de devolver.

* e neste particular eu devo salientar que tenho o maior respeito pelos americanos que deram a sua vida para salvar a Europa das garras dos nazis durante a II Guerra Mundial; obrigado por tudo, curvo-me perante as vossas campas, mas podiam ter aproveitado para, nessa mesma altura, resolverem de vez todos os problemas da Europa: tinham feito algum planeamento familiar junto dos pais do Santana Lopes para evitar que ele nascesse dez anos depois e, uma vez que ficava em caminho, também podiam ter aproveitado para afundar a Espanha

E o que é que acontece actualmente? Os Estados Unidos estão à venda. As casas dos americanos são, normalmente, de um só piso, com um lindo relvado aparado à frente, uma carcaça velha de uma carrinha de nove lugares à porta da garagem e sem qualquer vedação. Comum a todas é o facto de terem duas placas espetadas no seu belo relvado: uma diz «I vote for Obama», a outra diz «esta casa está à venda». Nunca pensei ver os americanos na penúria, muito menos em pânico. Primeiro, porque tinha quase a certeza que não sabiam o significado da palavra «penúria» e, segundo, porque mesmo que soubessem o que quer dizer, não saberiam reconhecer os sinais de que estariam mesmo a passar por isso. Mas a verdade é que estão mesmo em pânico, porque um dos candidatos à presidência disse, num dos debates televisivos, «caro senador, caros concidadãos, o nosso país está na penúria». Em Nova Iorque, nessa noite, foi o caos: trânsito absolutamente louco, pessoas em passo apressado na rua, gente aos gritos, barulho de ambulâncias, magotes de gente enlatada nas estações de metro, tudo num ritmo alucinante como se quisessem fugir da cidade e entregar o país de volta aos índios. «Que se passa? Para onde vai esta gente toda? Está tudo a fugir da depressão financeira?», perguntei a um dos polícias-sinaleiros-que-afinal-não-são-polícias que estão nos cruzamentos de apito na boca a mandar avançar o trânsito. «Nada de especial», respondeu ele: «hoje há jogo dos Giants»

Não me dei por vencido. Eu sei que os americanos são burros como portas, mas não podem ser assim tão imbecis que não vêem a realidade desvendar-se diante dos seus próprios olhos. Fui ver tudo o que era canal de notícias na TV (e são vários, uns sete ou quarenta-e-três), li os jornais de uma ponta à outra, quis saber a reacção dos americanos ao terem sido confrontados com o choque de saberem que estão falidos por intermédio de um dos homens que daqui a uns dias vai ser o líder do país. Em Chicago ninguém deu por nada, porque ficaram todos retidos no trânsito por causa de um acidente na linha de comboio de superfície; em Washington ficou toda a gente presa num engarrafamento à saída da cidade por causa de uma operação policial desencadeada para prender o filho de um senador democrata que «hackeou» a conta de e-mail da republicana Sarah Palin; em Cleveland ninguém viu o debate, porque andava toda a gente na rua à procura dos donos de um stand de automóveis que burlaram o estado com centenas de facturas falsas; em Las Vegas os casinos estavam cheios à hora do debate e ninguém ligou patavina; em Los Angeles ninguém percebeu nada, porque os habitantes de Los Angeles só percebem espanhol… acho que a única pessoa que assistiu ao debate pela televisão fui eu.

Finalmente encontrei-me com um administrador de uma multi-nacional que parecia ter um neurónio-e-meio a mais que o comum dos americanos. «Sabes, não sei o que vai acontecer à minha reforma», disse ele. Como assim, man? Chegas aos 65, penduras o casaquinho e a gravata das cornucópias roxas, compras um Cadillac e começas a fazer planos para visitar a Europa – esse continente que nem fazes ideia onde fica, mas ouviste dizer que é «um país bonito». Mas não era a isso que ele se referia. Estava a falar do dinheiro da reforma, aquele que andou a pôr de parte a vida toda num fundo de investimento e que agora não sabe dele. Porquê? Porque a instituição financeira que lhe atribuiu o plano de reforma fez como qualquer banco e estimou uma solidez financeira que nunca teve e tão cedo não vai voltar a ter. Ou seja, na realidade tem uns bons milhões a menos do que aqueles que sempre disse aos investidores que tinha e se, agora, toda a gente corresse a tirar de lá o dinheiro para o guardar debaixo do colchão, seria altamente provável que a mesma instituição financeira só tivesse dinheiro suficiente para devolver as uns dois ou três clientes.

Outro pânico dos americanos é o da segurança. Para se visitar o 103º andar da torre mais alta dos Estados Unidos – desde que as outras duas vieram cá parar abaixo que a Sears Tower ficou como a mais alta dos EUA, a 3ª de todo o mundo logo a seguir ao Burj do Dubai e à torre de Toronto, no Canadá – é preciso fazer um strip-tease quase completo e passar por um detector de metais mais sensível que o dos aeroportos, porque até apitou por causa do meu dente de ouro e por causa da placa que eu tenho no crânio desde que estive exposto a um bombardeamento na Guerra do Golfo. E ainda só estava no piso térreo. Depois de 40 minutos para comprar bilhete, tive que esperar na fila para entrar… depois na fila para a sala de espera para ver um vídeo de meia hora… – «desculpe, menina, não posso passar à frente e evitar esta parte? É que eu não quero ver filme nenhum, eu já sei a história toda, só quero lá ir acima espreitar cá para baixo…» Não, não podia, tinha que ficar meia-hora no meio de oitenta japoneses a ver um documentário sobre a construção do edifício… – depois na fila para passar as portas rotativas… depois esperar na fila para o elevador… e no final das contas o elevador até é a coisa mais rápida de todo o processo, porque leva 62 segundos a subir o 0 para o 103…

Ouve-se o *PLIM* da chegada do elevador e, no pico da ansiedade, quando esperava que as portas se abrissem para receber aquela rajada de vento frio por estar prestes a pôr o pé no topo de uma torre a 527 metros do chão… bolas, é um piso fechado?! Então e a cena que se vê nos filmes? O ver o mundo de cima para baixo a respirar oxigénio puro? Nada. O skydeck da Sears Tower é um enorme andar totalmente vidrado, fechado e com barras grossas para impedir que alguém se queira suicidar – só se fosse esborrachado com toda a força contra os vidros! Assim que a porta se abre vêem-se crianças de todas as idades a correr de um lado para o outro (acho que tive azar e apanhei três visitas de estudo), japoneses mais preocupados em tirar fotos junto a um poster gigante do mais ilustre habitante de Chicago de toda a História (Michael Jordan), gente a espreitar para dentro daqueles super-binóculos de metal que funcionam com moedinha como se vê nos miradouros e montes de gente a tirar fotos com flash – o que não deixa de ser notável, tendo em conta que o flash reflecte nos vidros e inviabiliza o efeito de ficar com a cidade como fundo. Acreditem, eu experimentei. Do tempo todo que eu lá estive em cima, que deve ter totalizado qualquer coisa entre dois e três minutos, andou sempre um segurança atrás de mim – terei cara de árabe? Mas eu sou tão branquinho…

Resultado: treze dólares para quase uma hora de espera, meia-hora de filme e três minutos de uma sensação igual a estar nas Amoreiras. Porreiro. Haverão de me apanhar aqui mais vezes.

Nova Iorque e Chicago parecem cidades gémeas. A diferença é que a primeira é quase três vezes maior que a segunda e para se ir ao «fim dos arredores de Nova Iorque» é preciso apanhar um avião. Mas, de resto, no centro é quase tudo igual. Mas há uma coisa que distingue Chicago de qualquer outra cidade americana e, bem vistas as coisas, qualquer outra cidade no mundo: um comboio de superfície que anda ao nível de um sexto andar. E isto não é só numa rua ou outra, meus amigos. É no coração da cidade e em algumas das artérias principais. Por baixo passam os carros, as pessoas, as bicicletas e os espanhóis, por cima passa o comboio, numa linha férrea engenhosamente montada em cima de estruturas de ferro que parecem servir de telheiro para quem está em baixo. Isto até parece muito simpático – é como ter um metro mesmo no centro da cidade, sem ter que esventrar o chão com túneis intermináveis e sem ter que interromper o trânsito (caótico, por sinal) nas ruas mais movimentadas. Boa ideia. Tirando, claro, o facto do comboio ser extremamente ruidoso e passar rigorosamente ao lado da janela do meu quarto no hotel. Cada vez que o comboio passa – o que a determinadas horas pode acontecer a cada dois minutos – parece que deitaram a Sears Tower abaixo. Uma ideia simpática que não me deixa dormir.

Os Estados Unidos são, igualmente e como se sabe, o país dos avisos mais inúteis. Alguns exemplos: no conversor de corrente eléctrica EUA/Europa: «não usar como antena de TV»; numa garrafa de água: «remover tampa de plástico antes de ingerir»; antes de entrar num túnel: «remova os óculos de sol»; num frigorífico: «não-indicado para guardar animais vivos»; numa porta rotativa: «não entre no sentido contrário ao da porta giratória»; numa auto-estrada: «não use o efeito de travão-motor em horas de proibição de ruído».

Mas os americanos são, devo dizer, especialistas em fazer tudo dentro de um automóvel. Só eu vi dezenas a falar ao telemóvel, um a fazer a barba, uma a pintar-se, uns quinze com um hambúrguer numa mão e a coca-cola na outra, uns quantos a ler o jornal e até um que colocou com mestria o seu computador portátil no tablier do carro para ir a usá-lo enquanto conduz. Tudo isto numa auto-estrada e em andamento. São educados e muito simpáticos, os sobrinhos do Tio Sam. Infelizmente, não têm a mínima ideia do que cá fazem no mundo. E o pior é que nós também não sabemos como livrar-nos deles, caso contrário a ideia de viver nos Estados Unidos faria todo o sentido.

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Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

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