Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Wednesday, April 08, 2009

Eu cá gosto quando me servem uma cerveja que é mais alta que a Carolina Patrocínio

Munique é aquela cidade famosa na Alemanha.

Famosa por causa daquele clube que tem uma estranha predilecção de esmagar os clubes de futebol de Lisboa com festivais de golos (sim, sim, ou os benfiquistas têm memória curta e esquecem-se que também já sucumbiram aos pés do «Kataklinsmann»?), famosa por ter a sede de uma das marcas de automóveis preferidas dos construtores civis e famosa por ter uns santos populares em Outubro em que dezenas de canecas de cerveja se enfiam teimosamente em generosos braços de senhoras de tranças e bigodes maiores que o meu.

Infelizmente, Munique é também uma cidade famosa por estar cheia de alemães. Isto até podia nem ser um problema, se os alemães cheirassem bem, se não tivessem a desagradável tentação de comprar as roupas com as cores mais bizarras que encontram e se falassem uma língua minimamente compreensível. O meu conhecimento do idioma deles é limitado. De resto, o meu conhecimento de qualquer idioma que seja é limitado a um nível próximo da inutilidade. Estas palavras só estão neste blogue porque me emprestaram uma máquina que converte aquilo que eu grunho em palavras escritas. E, mesmo assim, de quinze em quinze segundos dá um apito irritante e diz: [imaginar voz de robot] «beeeeeeepppp! essa palavra não existe!» [parar de imaginar voz de robot]

O que eu sei de língua alemã chega para muito pouco: «guten morgen», para dar a ideia que estou feliz porque está uma linda manhã, mesmo quando é de noite; «danke schön», para parecer educado e inteligente; «auf wiedersehen», que uso com frequência sempre que pressinto que vou conseguir sair rapidamente daquele país; e «eine bier, bitte», a expressão mais importante de todas, que quando corre bem tem como resultado prático porem-me uma cerveja à frente dos beiços. Da última vez que usei esta frase fiquei extraordinariamente feliz: primeiro, porque a menina a quem eu pedi a cerveja - que parecia o maestro Vitorino de Almeida vestido de padeira austríaca - percebeu à primeira e até sorriu; e, segundo, porque esta foi a primeira vez em 7432 idas a Munique em que não estava a chover torrencialmente ou a nevar. E olhem que eu já tentei ir em Agosto e, mesmo assim, choveu durante 72 horas. Ininterruptamente.

Eis que chega, então, uma cerveja. Fresquíssima, com borbulhas lindas, com um grande bigode de espuma e muito loira. Parecia quase a Marisa Cruz. E parecia, sobretudo, porque era grande, muito grande. E estava dentro do maior copo de imperial que eu já vi na vida. Uma cerveja que, na sua esplendorosa totalidade, era mais alta que a Carolina Patrocínio*. Fantástico. Era mesmo o que me estava a apetecer, porque, na verdade, não há mais nada de jeito para fazer em Munique.

* - é que eu já estive ao lado da Carolina Patrocíno. Quer dizer... disseram-me que tinha estado ao lado dela. É que eu espreitei, espreitei, olhei para baixo, mas ela é tão pequenina que ficou tapada pelos meus joelhos. Mas dizem que tem um rabinho, ui, ui...

Quando me disseram que alguém estava a combinar uma visita ao centro histórico da cidade, acompanhado de guia turístico, torci o nariz. Torci o nariz, porque nesse momento estava a tentar enfiar toda a minha cabeça biónica dentro do copo de cerveja e o meu nariz, que é feito numa mistura de carbono e kevlar, estava todo torto. E depois porque não me parecia uma boa ideia trocar as melhores loiras que eu já vi na vida por um passeio numa cidade alemã. Todavia, sob a ameaça de divulgação às autoridades da minha posição geográfica no planeta** e a ameaça de porrada, lá tive que engolir a pilsner à pressa e ir com o resto da manada.

** - para quem não sabe, eu ando foragido à justiça desde que roubei uma arca com beringelas de ouro maciço em Vanuatu. Fui interceptado quando tentava trocá-las por discos do António Variações na casa do Benfica do Luxemburgo, mas consegui fugir pela porta dos fundos com a conivência do polícia de serviço, que foi meu companheiro de beliche durante a invasão de Samarkanda.

À frente de uma guia turística juntou-se um numeroso grupo de pessoas. Dois americanos, uma dinamarquesa, cento-e-oitenta-e-três japoneses e uns dois ou três espanhóis. Os espanhóis perderam-se ao final de duas esquinas, felizmente. Os japoneses fizeram o trajecto todo, infelizmente. A guia turística era uma simpatia e falava inglês. Tinha uma voz quase tão irritante como a daquela moça que apresenta um programa de TV com o Goucha, mas era, na verdade, muito simpática. Tinha uns óculos que a faziam ter um ar inteligente. Unhas pintadas, bem arranjadas. Camisa de seda impecavelmente passada. Manchas de suor nos sovacos como se fosse o Camacho. No fim, recebeu palmas dos japoneses e ficou emocionada. Ao meu lado estava uma japonesa que não parava de rir. Formosa, fofa. Com sorriso singelo, fofo. Tinha um cabelo preto, longo, bonito, fofo. Afinal, era um japonês. Fofo.

Um dos pontos altos da visita guiada à cidade é ficar uns minutos - algures entre dois e três minutos, o que para mim é uma eternidade - à frente do edifício da antiga catedral à espera que bata as quatro da tarde para se ver um espectáculo inolvidável. Uns bonequinhos mais ou menos apessoados andam para a frente e para trás, batem com as canecas umas nas outras e fingem que estão a dançar, ao som de uma cacofónica melodia dos sinos. Miserável espectáculo e milhares de pessoas a ver. E a bater palmas. Quer dizer, os japoneses batiam palmas. A tudo, basicamente.

Uma das japonesas sentiu-se mal e deu-lhe assim um fanico tipo desmaio. A guia turística, acompanhada da sua voz perturbante para qualquer sistema nervoso, acudiu, abanou uma tímida brisa de ar com a mão direita e exclamou «desculpem! É que estamos a atravessar uma vaga de calor!». Amiga... olha bem para mim: estou de casaco e cachecol. Não calcei as luvas por vergonha, mas fiz questão de colocar dois pares de meias entre os pés e os sapatos. Estão 11 graus. Em nenhum lugar do mundo com excepção da Gronelândia, do Alasca e da Serra de Sintra esta temperatura se qualificaria como «vaga de calor». E no entanto, os muniquenses (ou serão «municos»? ou «muníacos»? ou «muniscos»?) andam na rua como se alguém tivesse rebocado o calor das Bahamas até ao sul da Alemanha. Como quase toda a gente anda de bicicleta, é ver os rapazes de calção e chinela, as meninas de mini-saia e tops com quase tudo de fora, os rapazes que são meninas também de top mas numas cores assim rosa-choc e verde fluorescente e flores no cabelo e fitas com arco-íris e tudo muito gay, muito gay.

O melhor de Munique foi o que descobri, sem querer, enquanto andava perdido a tentar encontrar o Schweinsteigger para lhe dar com uma cadeira no focinho. A uma meia hora de caminho do centro de Munique (45 minutos, se for um Fiat, uma hora e dez, se for de pasteleira, duas horas e meia, se for a pé) fica um memorial. Mais concretamente, um memorial sobre o Holocausto, feito a partir do campo de concentração de Dachau. Isto é, o campo de concentração propriamente dito, transformado num museu, que todos podem visitar. Eu decidi visitar e, como bom parvo que sou, entrei cheio de moral e a fazer piadinhas parvas sobre judeus, férias e hotéis de cinco estrelas. Bastaram cinco minutos lá dentro para perder a vontade de rir e 40 minutos de visita, com passagem pelas câmaras de gás (que foram mantidas intactas, mas sem bicos de gás), para ficar mais enjoado do que se tivesse comido favas à transmontana.

Peço desculpa pelo teor sério destas últimas linhas, mas é que aquele sítio impressiona mesmo. Demorei uns quatro minutos a recompor-me. O memorial de Dachau é a prova de que os alemães, apesar de tudo, não têm vergonha do passado, pelo menos não o suficiente para se esconderem e assobiarem para o lado a fingir que não foi nada com eles. Também não têm orgulho nisso e, sempre que podem, evitam falar no Holocausto. Mas sabem o que os antepassados andaram a fazer e alguns deles lamentam que tenha sido assim.

Só por causa disso, tiro-lhes o meu chapéu. Mas a seguir ponho-o logo na cabeça outra vez, que está frio...
o

2 comments:

marta cs said...

1º Tu não tens bigode. Pelo menos não tinhas da última vez que te vi (que já foi aí há 20 anos, mas pronto).

2º Apareceu-te uma "menina" parecida com o maestro Vitorino de Almeida vestido de padeira austríaca e tu conseguiste pedir-lhe uma cerveja? Eu é que te tiro o chapéu. A mim, muito provavelmente, ocorrer-me-ia qualquer coisa como "F***-SE!!!"

3º A "municos", "muníacos" e "muniscos" acrescento "muniques". Assim, ao estilo de "palestinos".

4º Ide escrever guiões com as Produções Fictícias, ide.

Edmund said...

1. Bom... isto que eu tenho agora não é exactamente um bigode... é uma pelosidade que cresce debaixo do nariz. Mal semeada, mas vá... fico com aspecto de puto giro :)

2. Por acaso foi o que me saiu, «F***-se!, ó Vitorino, eine bier bitte». Felizmente ele... perdão, ela percebeu só a parte que interessava.

3. À luz do novo acordo ortográfico, espero que não dê uma coisa do tipo «muniquienses»...

4. Não me parece má ideia e muito me honraria. Mas eles não precisam lá de um parvo como eu...

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

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