Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Thursday, March 12, 2009

Na Suíça há queijo com buracos, chocolates e gente a falar línguas esquisitas, incluindo português


A Suíça é bem capaz de ser o país mais arranjadinho da Europa. Quase tão arrumadinho como a Áustria, um pouco menos arranjadinho que a Brandoa e tão limpinho como uma praia brasileira às sete da manhã. Aliás, a limpeza é sílaba tónica: dá a ideia que, se alguém deitar um papel de rebuçado para o chão, aparece logo alguém atrás a limpar. De tal modo que um cidadão suíço teria um colapso cardíaco se fosse a Torres Vedras a seguir ao carnaval e visse a quantidade de porcaria que fica espalhada no chão.

Mas há uma suspeita curiosa: os suíços, se calhar, não existem. Os suíços que vivem na Suíça são, essencialmente, franceses, alemães ou italianos. Nada mais ridículo para uma nação soberana eternamente elogiada pela sua irritante neutralidade. Conheci vários cidadãos com passaporte suíço: um que era francês, mas tinha negócios na Suíça; outro que era inglês, mas trabalhava na Suíça; outro que era suíço, mas vivia em França. Porquê? Porque o custo de vida para lá da porta de Anemasse, que faz a fronteira entre a periferia de Genebra e uma França muito rural, é bem menor do que viver nos limites urbanos. Paga-se metade do preço do aluguer das casas e ainda se consegue ter uma vivenda em madeira pré-fabricada. E além disso, chegar ao centro da cidade para ir trabalhar demora uns 20 minutos, porque a Suíça pode muito bem ser do tamanho de um dedal, mas tem um sistema de transportes públicos extraordinário.*

* a sério que tem. Para ir para qualquer lado apanha-se um «tram», que no fundo é a versão eficiente dos eléctricos de Lisboa, ou então um comboio. São rápidos e silenciosos, são confortáveis, aclimatizados e há sempre lugar para sentar, mesmo estando cheios de gente cujas conversas não entendo. E nunca se apanha um revisor a clicar irritantemente o obliterador. Em qualquer um há sempre jornais gratuitos para ler, o que seria excelente se eu soubesse ler em línguas estrangeiras. Aliás, seria excelente se eu soubesse ler de todo.

Ouve-se gente a falar idiomas incompreensíveis. Incluindo o português. Tentei perguntar que comboio se apanhava para o aeroporto e escolhi um indivíduo com um farto e desalinhado bigode, amarelo na parte de baixo, queimado de tanto tabaco. Motivo óbvio: era português. Mas mesmo assim não percebi patavina do que ele disse: «u xenhôre vei puracolá, sobe nas escaliéres rullants e vire a droite... faça atençon, pruque nas linhes 'hã' ê 'dô' estão entrãn de devlopar uns traválhes e é melhor ir pur a linhe truá». Ficaram na mesma? Eu fiquei. Mas no meu caso é compreensível porque o meu processador interno tem um desempenho miserável do ponto de vista cognitivo, especialmente porque tem um sistema operativo feito em Banguecoque e não consegue entender dialectos ocidentais.

Mas o que é um Suíço, afinal? E que língua fala?

Bom, o suíço, ao que parece, é um queijo. «Tem mais buracos que um queijo suíço», costumo ouvir. Pois devo dizer que não vi um único queijo na Suíça que tivesse buracos. O das racletes, por exemplo, vem assim espesso, espesso, quentinho, derretidinho, e buracos é coisa que não tem. Depois mudei de ideias, porque me disseram que o suíço, afinal, é um chocolate. Ok, parece fazer sentido. Há anúncios de televisão que dizem «a excelência do chocolate suíço». Mas, caramba, o chocolate suíço chama-se Milka. Ainda pensei que fosse aquele rapaz amaricado que canta umas músicas com uma voz muito fininha como se lhe estivessem a prender as alças das cuecas pelos ombros, mas não. Esse é o Mika, tem como nome próprio Mica Penniman (o homem que gosta de pénis, portanto, perfeitamente apropriado), nasceu no Líbano e vive em Londres. Milka é, portanto, uma mulher. Logo, não é o verdadeiro suíço.

Aparentemente, o verdadeiro suíço é uma mistura de várias origens. Conheci um suíço a quem tentei questionar para desbloquear o mistério:


- Mas tu és suíço?
- Sou.
- E nascescte onde?
- Em Antuérpia.
(Boa. Obrigado. Muito mais esclarecido...)
- Então mas como é que vieste parar à Suíça?
- A minha mãe era de Lausanne, o meu pai belga. Vim para cá aos 2 anos. Falo muito pouco de flamenco.
- Então, mas se és suíço, falas o quê?
- Francês.
- OK, e...
- (interrompendo) ...e alemão. E italiano. E um bocadinho de flamenco, como já disse.
- Mau... vou pôr a coisa noutros termos: os suíços a sério, falam o quê?
- «Swissgerman». Ou «Swissromand».
- Bolas, mas o que é isso?
- É um idioma. Um dialecto, talvez. Só os suíços é que percebem e, mesmo assim, nem todos os suíços.
- Mas é alemão?
- Não. É suíço-alemão.
(Olha, e se fosses para o raio que te parta?!)

Nem os suíços se entendem uns aos outros. Este rapaz vive perto de Genebra, tem família em Interlaken, uma avó em Ticcino e um primo em Thun. Os Natais devem ser engraçados: tudo à mesma mesa, comida com fartura, e ninguém entende uma palavra do que os outros dizem.

- Olha lá, e vocês, suíços, no futebol são uma nódoa, não é? Assim para o fraquinho.
- Bom, no Europeu, que foi aqui na Suíça, por acaso ganhámos a Portugal.
- Hum... mudando de assunto, aqui qual é o desporto nacional?
- Ski.
- Como? Isso não é desporto, é férias.
- Não é não. É um desporto e toda a gente conhece os campeões.
- Mas como é que acabaram a gostar de Ski?
- Olha à volta: por todo o lado há montanhas. Há miúdos que começam a calçar os skis antes de saberem andar. Não achas natural que dê grandes campeões?
(Começas a irritar-me seriamente...)

Se eu tivesse olhos e não estes implantes gelatinosos de plasma que me colocaram depois de escavacar as órbitas durante os bombardeamentos do Líbano, teria sido capaz de ver que a Suíça está toda entalada no meio de montanhas. Bonito, segundo dizem. Tem 26 cantões (que devem ser umas esquinas gigantes) e 7,7 milhões de habitantes. Muitos portugueses, mas infelizmente nenhum suíço de gema.

Afinal, os verdadeiros suíços devem ser os relógios. Ou os canivetes.

o

5 comments:

Ivo said...

Fds... O que eu me ri com esta prosa... hahahaha Mica Penniman....

marta cs said...

E aquele senhor do bigode costuma vir a Portugal nas vacances?

Edmund said...

Qual senhor? O Mica Penniman? :PP

Sim, vem durante o mês de Agosto. Vira à droite na autoroute, faz sempre o mesmo chemin... traz a voiture cheia de valises...

marta cs said...

E a mulher tem de rester na Suíce pruque faz a ménage em casa duma mádame. Estou a ver quem ele é, sim.

Edmund said...

Este senhor do bigode ainda tinha uma particularidade curiosa que eu omiti do texto, por decoro: quando eu cheguei ao pé dele, estava a falar com outro bigodinhos (outro «emigra» também, suponho eu) e a misturar, na mesma sequência de frases, os «ordinarismos» 'FUÔDAXE' e'PUTAIN'

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

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