Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Friday, May 04, 2007

O banho, a meia, a toalha e o parvo: há um turco para cada necessidade

Há o banho turco, a meia turca, o atoalhado turco de qualidade e o turco propriamente dito. O turco propriamente dito é um cidadão, essencialmente, parvo. A única coisa que não é parva no turco é o facto de odiar de morte os gregos, já de si criaturas bastante parvas. Mas o que nem turcos nem gregos sabem, na verdade, é que eles são iguais. Tão iguaizinhos, que parecem irmãos. Como se, nos primórdios, o chefe de uma família «turcomenigrega» tivesse sido forçado a expulsar dois dos seus filhos de casa: a um, mandou-o para um país retalhado e plantado entre os mares Mediterrâneo, Adriático e Egeu, dando-lhe como castigo um puzzle gigante de pequenas ilhas das quais nunca ninguém conseguirá decorar todos os nomes; ao outro, mandou-o para a Ásia tratar de uma gigantesca propriedade rural, com apenas uma unha negra plantada do lado de cá de um estreito. O turco odeia o grego porque acha que ele ficou a ganhar. Como se houvesse alguma coisa a ganhar no facto de se ser grego.

A Turquia é da Europa, mesmo que, na verdade, esteja toda enfiada na Ásia à excepção de um bocadinho de terra que o Atatürk se esqueceu do lado de cá. A capital política da Turquia está na Ásia, porque Ankara é uma cidade absolutamente desinteressante, plantada mesmo no meio do território, onde basicamente apenas se passam reuniões e encontros de políticos mal vestidos. E orações dos árabes. Mesmo assim, a Turquia é da Europa. Quer ser da União Europeia, embora ninguém no seio da verdadeira Europa queira abrir as portas a um país com enormes desigualdades sociais e problemas humanitários graves. Sim, é verdade que já cometeram esse erro com Portugal, daí não quererem repetir. Ainda para mais quando, em Bruxelas, toda a gente se faz desentendida sempre que se fala na Turquia: «Turkey? Oh, that is for lunch, right?», é o que costumam dizer. Porque, acima de tudo, a União Europeia não está preparada para abrir os braços a um país que, entre a sua população, tem uma grande predominância de turcos, que é o mesmo que dizer «ciganos, mestiços de todas as origens e árabes».

Istambul já se chamou Bizâncio e, depois, Constantinopla. Também já foi Augusta Antónia e Secunda Roma. Como nenhum dos nomes era brilhante, passou a chamar-se Istambul, que é sem dúvida uma evolução na continuidade. Istambul não é a capital da Turquia, apesar de ser a metrópole mais populosa de todas. De longe: moram 11 milhões de pessoas em Istambul e seus arrabaldes, o que significa que Portugal inteiro cabia nos 31 distritos de Istambul. É a única cidade do mundo que se situa em dois continentes. O Bósforo é um estreito que esventra Istambul ao meio, criando um contraste interessantíssimo: de um lado estão os turcos parvos que têm a mania que são europeus; do outro estão os turcos parvos que se riem dos turcos parvos que têm a mania que são europeus.

Andar de carro em Istambul é ter a sensação permanente de que se vai matar um turco a qualquer instante. Eles atiram-se para o meio da estrada em qualquer lado e ninguém percebe como conseguem escapar sem ser atropleados. Isto porque os próprios condutores turcos são mais perigosos do que um cinto de explosivos de um palestiniano. Há, portanto, uma relação muito próxima entre suicídio, martírio, assasínio e acidente. Os condutores dos taksis (assim se escreve táxis em turco) discutem travagens com os condutores dos otocars (assim se escreve autocarros em tuco), tudo à mistura com os candutores de ambulâncias (não fixei como se escreve ambulância em turco). É uma discussão de milímetros e são momentos de grande frisson, especialmente se, pelo meio, ainda aparecer um turco parvo a atravessar a estrada. Imaginem a situação: trânsito compacto mas uma média de velocidade respeitável, digamos 70 km/h, o que não deixa de ser interessante tendo em conta que pelo meio existem vários semáforos com contador decrescente dos segundos que faltam para o sinal abrir, o que dá todo um novo sentido à expressão «piloto de semáforo»; o taksista acelera, o condutor do otocar também; disparado lá de trás, vem o condutor da ambulância (bolas, como é que me fui esquecer do nome em turco...) e passa pela faixa número cinco, aquela que acabou de inventar numa via só de duas faixas, espremido entre um Renault 12 a cair de podre e um riquexó; do passeio, acelera furiosamente um turco a correr em direcção ao centro da faixa de rodagem; a ambulans (lembrei-me!!) não lhe acerta por uma nesga, mas o taksista faz pontaria à bacia mas também falha por milímetros; o turco pedestre abranda o ritmo, olha com ar zangado e diz qualquer coisa em turco que deve ter sido do género «se te apanho racho-te uma vareta de pita shoarma nos cornos!».

Há cidades que são conhecidas pelos seus motes, as suas expressões imortais. Como Paris é a cidade-luz ou Nova Iorque é a cidade que nunca dorme. Istambul é a cidade que não deixa ninguém dormir. Os turcos guiam com o pé no acelerador, a mão direita no volante e a esquerda na buzina. Buzinam, buzinam, buzinam e buzinam mais um pouco. E quando estão cansados de buzinar, há sempre um turco companheiro disposto a buzinar por eles. Na Praça Taksim, uma das maiores e mais movimentadas da cidade, a sinfonia de buzinas é ensurdecedora. Todas afinadas em Fá Maior e com cornetas duplas. Às seis da tarde é um verdadeiro inferno: vem gente aos magotes de todas as direcções e, para variar, atravessam onde calha, que é o mesmo que dizer, no primeiro pedacinho de estrada que encontram; há tantos automóveis que não se vê a estrada; cheira a shoarma por todos os lados, o que não é de admirar porque porta-sim, porta-não existe uma casa de repasto que prepara carninha e batatinhas fritas inundadas de óleo; há gente a vender flores, papagaios de papel, jornais, bolos, bilhetes para a bola, senhas grátis para os bares de strip e latas de turka-cola; anda gente de mão dada, homens com homens, e garantem-me que não é por serem gays; em todo o lado há alguém a pescar, mulheres imcluídas; passam senhoras com óculos ray-ban a conversar com amigas cobertas por uma burka da cabeça aos pés...

É um sítio de enormes contrastes. E de trastes, também. No fundo, é como se este bocado da Turquia ainda estivesse a meio de um processo de reconversão num sítio moderno: o mais modernaço dos jovens mestiços vestido com um blusão de cabedal ainda cumprimenta o amigo com dois beijos na face, como manda a tradição, ao mesmo tempo que o convida a dar uma voltinha no seu novíssimo Dacia Logan. Até porque basta atravessar a ponte para o lado da Ásia para perceber que, do lado de lá, a Turquia é outra. De tal maneira que não existe água potável e quem tiver sede tem que comprar a um dos múltiplos representantes que vende um garrafaozito mediante encomenda pelo telemóvel. É fácil dar com os números deles: há uma placa pregada em cada poste da estrada. Por falar nisso, as estradas de asfalto normal acabam depois da ponte de saída da Europa e a picada com buracos passa a ser o piso típico. Não se vê uma única patrulha polícial nesta zona - ficaram todos em Istambul a ver o engarrafamento passar. É literalmente isso que fazem: ficam a ver. Não gesticulam, não apitam, não ajudam a fazer aquele caos movimentar-se mais depressa. Aliás, nem sequer abordam os carros mais estranhos que por eles se cruzam, porque andámos mais de 150 km com um carro sem matrícula e nenhum deles achou estranho.

Como se disse há pouco, Istambul é a cidade que não deixa ninguém dormir e muita da culpa é dos polícias. Na noite em que o ilustre visitante mais precisava de dormir, andava um turco com um megafone na praça Taksim a gritar qualquer coisa em turco, provavelmente insultos de morte aos gregos (aliás, eu percebi como os senhores do hotel colocaram, habilmente, a bandeira portuguesa ao lado da grega lá fora... acham que têm muita piadinha...). Como as construções turcas são irrepreensíveis e as paredes são reforçadas de forma sólida com o melhor papel vegetal que eu já vi, o estúpido do turco está a falar pelo megafone lá em baixo e eu oiço tudo no 11º andar como se ele estivesse na casa-de-banho. Mas haja esperança!, eis que lá em baixo se aproxima o carro da polisi turca, com os «pirilampos» ligados e tudo! Então, mas... pararam... espera lá!, por que raio é que eles não o mandam calar??!... os polícias ficam dentro do carro a uma respeitável distância de 10 metros e, eles próprios, usam o seu próprio megafone para o mandar calar. À falta de um, dois megafones para ninguém dormir. Segundo me explicaram depois, acho que os polisi têm receio que cada maluco seja um terrorista com explosivos amarrados à cintura (quem os pode censurar?), daí que não se aproximem, sob pena de poderem chegar a casa dentro de vários sacos-plásticos. Ou então não foi nada disso e o que me explicaram foi que o maluco era do Beşiktaş e os polícias do Fenerbahçe e apenas ficaram a trocar insultos. Sei lá, não percebia nada do que os turcos diziam. Porque o domínio da língua inglesa por parte de um turco é fascinante: entre um «rélou» e um «fóq-iu», não sabem mais nada. Nem andaram na escola tempo suficiente para aprender o «tânq-iu», tal a raridade com que o usavam.

Mas não deixa de ser impressionante a quantidade de vocábulos que sabem de português: um dos empregados do restaurante aproximou-se aos gritos «AAAHH CRISTIANO RONALDO!». Foi de tal modo expressivo que toda a gente achou que o Cristiano Ronaldo propriamente dito estava a jantar naquele restaurante, ainda por cima na nossa mesa (houve duas turcas que se levantaram e tudo...). Como receio de que «Cristiano Ronaldo» fosse uma qualquer espécie de ofensa em turco, resolvemos mostrar um ar ofendido e respondemos: «Hakan Şükür!!» (assim mesmo, com cedilhas e tudo). Mas afinal parece que não, o empregado turco estava apenas a mostrar que sabia falar português, e deu mais exemplos: «Luuísse... Figô»... e também «RRuí Costá»... e finalmente «Ricardó Cuarêsmá». Este último não espanta ninguém, os ciganos têm família em todo o lado e o Quaresma tem, provavelmente, uma costela turca. Bem vistas as coisas, os turcos têm afinal, todas as referências culturais importantes sobre Portugal. Apenas lhes falta aprender a dizer «o melhor português de sempre», mas «Salazar» é uma palavra complicada para um turco.

Há muitas diferenças entre turcos e portugueses e, neste aspecto, estou em crer que Deus foi simpático (resta saber com quem...). Quem se queixa do trânsito que há em Lisboa devia fazer um estágio de duas horas em Istambul. Quem se queixa da qualidade da saúde no nosso país devia ser obrigado a ir a uma urgência na Turquia... porque morria infectado só de ver o aspecto das urgências. Quem se queixa da higiene nos restaurantes de Portugal devia ir almoçar a uma tasquinha turca, porque lá a higiene... bom, ninguém sabe quem é essa gaja. Mas em muitos outros detalhes, os turcos são tal-e-qual os portugueses. Na capacidade de organização e logística, por exemplo. À chegada ao aeroporto havia, no mínimo, catorze indivíduos de casaco e gravata (de cores vermelhas) à espera da delegação portuguesa. Um deles segurava uma placa que dizia «Portugal». Outro, imediatamente ao lado deste, também. Aos pares é muito mais eficiente. Ao lado destes dois, mais dois rapazes de casaco vermelho. A missão deles é apontar para outros três colegas, eles sim vão ajudar-nos a perceber para onde vamos. Um deles diz qualquer coisa em turco e nós pedimos ao tradutor que ajude: «ele disse que vão ficar no melhor hotel de Istambul!». A sério?, perguntámos com entusiasmo. «Não», disse o tradutor. Numa coisa os turcos são iguaizinhos aos portugueses: têm a mania que têm piada. Ao fim de catorze turcos de casaco vermelho, aparece um turco de casaco preto. Ele tem a missão de nos arranjar o transfer para o hotel. Após sete minutos completamente perdido, aos gritos com toda a gente e em todas as direcções sem que alguém o tenha ajudado a descobrir o otocar que nos leva ao hotel, o turco de casaco preto ausenta-se por instantes e regressa, agora vestido com um casaco vermelho. A mensagem era bem clara: «eu tenho um casaco vermelho, sou igual aos outros todos, por isso não tenho responsabilidade nenhuma de vos arranjar um autocarro». Durante 25 minutos ninguém foi capaz de nos arranjar um transporte dali para fora...

Istambul é uma cidade que não sossega e é o cenário ideal para evidenciar um detalhe no qual os turcos são claramente superiores aos portugueses: no «desenrascanço». O otocar aventurou-se por umas ruas estreitas e, inevitavelmente, deu com um beco em que quatro carros mal estacionados impediam a sua progressão. Sem problema! Um ilustre cidadão que estava ali de esquina rapidamente sacou do bolso um apito (isso mesmo, qual Paulo Paraty) e desatou a assinalar penalties com todo o oxigénio que tinha nos pulmões. Em menos de dois minutos apareceu o dono do primeiro carro para o tirar dali e os restantes não demoraram mais do que cinco minutos. O homem do apito liderou toda a manobra a partir do exterior, no final da manobra sorriu e agradeceu a ovação dos passageiros, sem sequer ter pedido uma moedinha.

Quando a noite finalmente começa a acalmar e lá em baixo, na praça Taksim, apenas se escuta o ruído das oito máquinas de limpeza da rua trabalham no local, o Bósforo, no horizonte, começa a mostrar os primeiros raios de sol. E é nessa altura que o iman daquela região sobe à instalação sonora da mesquita, começando a cantar para se ouvir em toda a cidade e chamar todos os fiéis muçulmanos à primeira oração do dia. Não há quem durma em Istambul.

4 comments:

ceci said...

sí,es verdad, los turcos son "parvos", los españoles son maleducados , los griegos son gilipollas,...etc...etc, no hay nada tan perfecto como un portugués.
Interesante relato de viaje, anyway.
Beijos
Ceci, la española sin identidad ni "salero" (hay que ver como les gusta esta palabra a los portugueses, con lo hortera que suena en español)

Edmund said...

Pues, Ceci, como dices "saudade" em español?
- ademas, si lees com atención, verás que para mí los portugueses son tan perfectos como cualquier turco ó griego (bien, no español, no hay nadie como un espanõl anyway...)

ceci said...

pues como nombre no tiene sinónimo, pero decimos "echar de menos": puedo echar de menos a una persona, un lugar, una épocam etc y viene a ser lo mismo que "sentir saudade"

ceci said...

qué te pasa con los españoles?

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

Free Hit Counter
Office Max Coupons