Este blog faz mal à saúde. Se conhece alguém com influência ou com um martelo de orelhas, mande fechar este blog. Não se admite tamanho atentado à integridade intelectual dos cidadãos. E à integridade física dos llamas chilenos. Nem que José Carlos Malato faça tanta cura de emagrecimento e apareça todo nú em festas gay mais gordo ainda. E não se admite que não haja quem arranje uma cadeira mais larga para o João Gobern se sentar

Sunday, January 27, 2008

O Carnaval mais português de Torres Vedras

O Carnaval de Torres Vedras é conhecido como «O Carnaval Mais Português de Portugal». É um bom slogan, mas é, por si só, um erro: o Carnaval é brasileiro. De mais lado nenhum. Mesmo o de Veneza, que me parece um Carnaval bastante tradicional e histórico, não é um Carnaval a sério. É um carnavalinho, se quisermos. O Carnaval de Torres Vedras, tal como o Carnaval português, é uma invenção de gente parva.

No Carnaval de Torres Vedras há um atelier de cabeçudos. Imagino um estúdio amplo, solarengo, com soalho em madeira, telas por todo o lado e pauzinhos de incenso a arder e, nas paredes, uma exposição dos melhores cabeçudos de sempre, incluindo Paulo Bento, Mário Lino, Maria João Avillez, José Carlos Malato, Paula Bobone, Pedro Santana Lopes, Maria de Belém (e a sua prima, Fafá), Luiz Felipe Scolari e aquele rapaz que apresenta o «Só Visto» e que agora, parece, vai para a SIC, se couber com a cabeça nos corredores de Carnaxide.

Mas afinal não: o atelier de cabeçudos é um projecto encabeçado (nem de propósito) por Francisco Profírio, que faz demonstrações de como são construídos os tradicionais cabeçudos. Enalteça-se o esforço do Porfírio, mas na verdade alguém devia dizer-lhe que não é necessário fazer um atelier para explicar como se faz um cabeçudo. Basta perguntar à mãe do José António Camacho.

Friday, January 25, 2008

Por que não retomar as mais bonitas tradições de Carnaval?

Até 5 de Fevereiro, o inferno está por aí. Nas ruas, nas escolas e, sobretudo, nos corredores dos centro comerciais, onde se eleva consideravelmente o risco de tropeçar num homem-aranha ou numa fada de três anos.

Loulé, Torres Vedras, Rio de Janeiro, Salvador, enfim, todas as localicades onde o Carnaval é tradição estão a preparar-se para o grande acontecimento, com a diferença de que, nas duas primeiras, é uma tradição parva e só dizem que é tradição porque sim. Em Ovar, o Carnaval ameaça ser o mesmo espectáculo de todos os anos, ou seja, gastam-se rios de dinheiro a preparar um evento de rua que resulta em alguns minutos de noticiário ao fim-de-semana e num incontável número de constipações em quem desfila - e em quem assiste.

O desfile do ridículo é tão decadente que terá uma grande noite de reis (vá-se lá saber porquê) no dia 1 de Fevereiro, pela tropa «Axu-Mal», o que, por si só, não augura nada de bom. Antes há uma noite do dominó ao som de Quim Barreiros e depois haverá desfiles para todos os gostos e uma matiné infantil «Charanguinha», a anteceder a «Noite Mágica». Tudo termina com a publicação de resultados, que serão, como tudo em Portugal, isentos e transparentes e deixarão umas boas dezenas de idiotas a lamentar o dinheiro que gastaram nisto tudo.

O triste espectáculo evitar-se-ia, quanto a mim, se fossem recuperadas algumas tradições do passado, essas sim verdadeiras heranças históricas do que seria um excelente motivo para se festejar o Carnaval.

Nos anos 50 chamava-se «Carnaval Sujo». E porquê? Basicamente porque deixava os intervenientes todos cagados de porcaria, assim como todos os que assistiam. «O 'Carnaval Sujo' teve poucas edições, durante os anos 50, acabando por sucumbir aos seus próprios excessos», pode ler-se no website oficial do Carnaval de Ovar. Não entendo, devo dizer, o que se quer salientar por 'excessos'. Um bando de homens a atirar porcaria uns aos outros, incluindo cal, carvão ou serradura, parece-me um excelente pretexto para se armar um Carnaval. Nesta altura do ano ou noutra qualquer. A tomatina de Buñol faz-se em Agosto a fechar umas festas tradicionais e não me parece que alguém se queixe, a não ser as centenas de espanhóis parvos de dão entrada no hospital com feridas de pele e olhos à Belenenses e queimaduras e problemas psíquicos. Podia retomar-se a tradição, em Ovar. De certeza que era mais divertido, as imagens na TV teriam todo um novo élan e pelo menos a malta tinha motivo para descarregar as suas frustrações uns nos outros.

O mesmo website diz que «pela sua singularidade, o 'Carnaval Sujo' ainda hoje é recordado como um importante marco do Carnaval Vareiro», sem que se especifique a parte «recordado por quem», uma vez que já não existem pessoas suficientes que tenham entrado nestas festividades e, as que existem, são impedidas de recordar os acontecimentos por causa do alzheimer. Mas as belíssimas fotos de época do Estúdio Almeida lá estão para documentar o que se fazia naquela época.

Quanto a mim, isto devia voltar. Se assim fosse, passaria a olhar para o Carnaval de uma outra maneira e incentivaria todas as outras regiões do país a adoptarem este tipo de celebrações, com arremessos de ovos, picaretas, capachinhos, cabeças de zés-pereira, bloqueadores de automóveis mal estacionados, cabeças de porco embalsamadas, vendedores porta-a-porta do Clix ADSL, livros da Margarida Rebelo Pinto e, num lampejo de agressividade que fica sempre bem, talvez farinha.

Há quem pague 10 euros para ver o corso carnavalesco. Dinheiro bem empregue era pagar 10 euros para ver parvos a atirar porcaria à cara de outros parvos. Isso sim.

Wednesday, January 23, 2008

Vermelho, em piemontês, quer dizer uma coisa completamente diferente


Não sei quem ensinou os italianos a guiar, mas suspeito que terá sido o mesmo artista que ensinou as boas maneiras aos espanhóis. Turim não é uma cidade grande - milhão e meio de pessoas movimenta-se por aqui com o à-vontade de quem vai a Sintra comer um travesseiro, com a diferença que o trânsito não se acumula em Ranholas mas sim ao longo de todo o Rio Po (sim, chama-se assim. «Po» em italiano é «pouco», em português é uma coisa diferente; em piemontês, um dialecto que se fala na região de Piemonte, quer dizer «Po» porque nem eles sabem explicar a origem do nome do rio que nasce nos Alpes).

Turim tem umas avenidas largas, mesmo à italiana: de um lado o rio, do outro casas e mais casas. Ao meio passam as avenidas que têm quilómetros e extensão e, ainda mais ao meio, os carris dos eléctricos aqui da zona. O rapaz que pintou as marcas de trânsito no pavimento deve ser descendente do Leonardo Da Vinci, tão direitinho que pintou as linhas no chão. Estão um mimo: duas faixas impecavelmente desenhadas no asfalto, para identificar duas vias de trânsito no mesmo sentido. Infelizmente, os italianos - especialmente estes piemonteses - não percebem nada de arte, ou então andam todos no mesmo oftalmologista que lhes troca as dioptrias por completo. Em cada avenida de duas faixas, os condutores de Turim inventam, pelo menos, mais duas.

É o caos completo que, verdade seja dita, até parece muito organizado: toda a gente sabe que, havendo espaço, naquela avenida circulam, lado-a-lado, tantos carros quantos os que se encaixarem. Depois páram nos semáforos, que, curiosamente, estão com a luz verde acesa. Cruzando a via de outra avenida perpendicular aparecem vários carros a uma velocidade de fazer corar o Michael Schumacher. O que me leva a pensar que, estando este sinal verde, o deles estará vermelho. Esperei até ao semáforo seguinte para confirmar e é mesmo verdade: os italianos avançam com o sinal vermelho. Está instituído. É lei. Todos fazem, ninguém refila.

O problema é quando chegamos a uma praça central, ou coisa que o valha, onde nenhum artista plástico desenhou marcas no chão. Nessa situação, meus amigos, valha-nos São Tom Tom. Eles avançam em todas as direcções, sem medo uns dos outros, como guerreiros montados a cavalo em duelos de lanças. Tanto nos pode aparecer um carro de frente e passar pela esquerda ou pela direita, e isto no exacto instante em que outro carro nos ultrapassa a velocidade considerável. Da direita aparece um maluco a cruzar a avenida para o lado oposto e quase choca de frente com outro, que faz o sentido inverso.

Assim que acaba o susto e recuperamos os sinais vitais, começamos a achar divertido. É uma mistura de «Destruction Derby» com «Carmaggedon», mas em versão real. E a conclusão mais engraçada de todas é a de que os habitantes de Turim, todos aqueles com que consegui trocar três palavras sem ser em piemontês (que é uma língua que só os piemonteses percebem, e mesmo assim depois de entornar duas garrafas de tinto da Toscânia), não fazem a mínima ideia para que raio serve aquelas luzes vermelhas que se acendem nos semáforos. Aliás, a malta de Turim com quem conversei acha que o vermelho é simplesmente aquela cor que fica bem nos cartões que se mostram aos jogadores da Juventus no derby da cidade.

Turim faz-me lembrar a Roménia. O que não deixa de ser especialmente interessante, tendo em conta que eu nunca estive na Roménia.

Para o improvável caso de alguém querer saber as coisas parvas que por aqui se dizem...

Coisas que se dizem assim por aí...

Free Hit Counter
Office Max Coupons